*Antes de mais nada, entenda a palavra chefe ao longo desse texto como seu líder ou gerente. Utilizei a palavra chefe no sentido figurado como licença para facilitar sua leitura e consequentemente, a interpretação da mensagem que eu pretendo passar.
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Quantas vezes você já viu atitudes dos seus chefes* e pensou que agiria completamente diferente?
Quantas vezes você se perguntou por que ele ou ela te disse não?
Quantas vezes voltou pra casa irritad@ por discordarem de você?
Algumas né? Talvez várias.
É sim. Eu sei. Isso é natural. Acontece comigo também.
Mas quando tentamos entender o real motivo por trás de decisões que, a priori, parecem equivocadas, podemos estar nos esquecendo de colocar algumas variáveis fundamentais na equação.
Somos sujeitos empáticos só até onde nos convém. E isso é bastante difícil de superar.
Neste artigo eu descrevo algumas dessas variáveis, com as minhas próprias experiências como pano de fundo.
Tá afim de entender melhor?
Tire os sapatos, pegue um café e pode se sentar.
Já sabe né?
Aqui a casa é sua.
Relação chefe* – empregado
Eu sempre me dei muito bem com meus chefes*. Tenho contato com quase todos eles até hoje. Alguns viraram verdadeiros amigos. Outros se mantiveram um pouco mais distantes, mas todos, sem exceção, são pessoas por quem eu tenho profunda admiração.
E essa admiração aumentou depois que eu me tornei um deles.
É! Você não está enganado. Isso soa como uma bela hipocrisia. E dependendo do ponto de vista talvez até seja mesmo, não vou negar.
Mas até onde isso é ou deixa de ser uma hipocrisia depende exclusivamente do seu ponto de vista.
Você já tentou se colocar no lugar do seu chefe*?
Eu imagino que você vá dizer que sim. Alguns, que sempre.
Aham!
Eu também. De verdade!
[abre parêntese] Modéstia parte, empatia é uma das coisas que eu mais gosto de exercitar. E não apenas no ambiente de trabalho. Empatia é o que me faz ver o mundo tão colorido quanto ele realmente é. Colocar os meus pés nos sapatos dos outros é, de longe, o que me faz aprender mais sobre mim mesmo, por mais contraditório que isso soe. [fecha parêntese]
Nas minhas experiências passadas eu sempre procurei contemplar tudo do ponto de vista dos meus chefes*.
Desde tentar enxergar o equilíbrio dado no trato com os funcionários para evitar dois pesos e duas medidas até o fato de ele ou ela poder ter alguma informação que eu não tinha.
Aposto que só nesses dois exemplos muita gente já viu algo que não tinha considerado, né?
Então deixa eu perguntar de novo.
Você já tentou realmente se colocar no lugar do seu chefe*?
Me refiro a considerar TODAS as variáveis possivelmente envolvidas. Desde a caixa de e-mails que ele tem para responder, com dezenas ou centenas de holding point actions, aprovações e reprovações, técnicas, não-técnicas, financeiras, férias de funcionários e tudo o mais.
Já considerou?
E o fato de ele ou ela também terem seu proprio chefe*?
Já?
Sim. Ele ganha pra isso. É obrigação dele conseguir lidar com tudo isso, etc, etc, etc.
Concordo!
Mas empatia de verdade vai além.
Justificar a carga de trabalho e as possíveis falhas de seu chefe* associadas a tal com o argumento de que ele ganha pra isso é tão desumano quanto a empresa que trata você apenas como um número, só que na direção contrária.
Situação da qual você tanto se queixa!
Se você quer considerar TODAS as variáveis possivelmente envolvidas nas equações do seu chefe*, você precisa se livrar da visão míope que a razão te provê e enxergar com o coração.
É isso que a gente tanto clama ultimamente das empresas, não é?
Humanização!
Pois é!
Você está cansad@ de ouvir que gerir pessoas é provavelmente a tarefa mais difícil de todas.
Mas esse consenso não é à toa.
E note que eu nem estou me atendo a variáveis externas ao ambiente de trabalho, como família ou saúde, porque isso eleva essa questão para outro patamar. Estou levando em conta apenas as questões que acontecem, literalmente, dentro da própria empresa.
Todo bom chefe* tem uma capacidade invejável de colocar de lado os problemas escolares dos filhos, a mãe com Alzheimer e a esposa que sofre assédio moral em seu respectivo ambiente de trabalho para cuidar exclusivamente do que compete a ele da porta da empresa pra dentro.
E aqui entra o ponto principal de toda essa conversa.
As variáveis externas do seu chefe não vêm para a mesa. Mas as suas variáveis externas vêm para a mesa dele.
Consegue entender?
O seu filho que está doente entra na equação dele quando libera você para trabalhar uma semana de casa.
Ele não tem culpa que a reunião da escola dos seus filhos foi agendada às 10h da manhã. E mesmo assim ele não se importa que você não venha trabalhar naquele dia.
O ligamento do seu joelho que rompeu se tornou um problema dele também. Ele terá que compensar sua ausência ou justificar a queda de rendimento do departamento para toda a empresa por causa da sua pelada imperdível de segunda-feira.
E ele dá um jeito de cobrir todas essas questões e a sua ausência para protegê-l@!
Porque sabe que a sua pelada é realmente imperdível.
Porque sabe que família é a base de tudo, apesar de ele não conseguir se dedicar como queria à dele.
Porque ele ou ela também sabem que saúde vem antes do trabalho, apesar de ele não conseguir dedicar nem 1 hora por dia a cuidar da própria.
Porque ele sabe que essa é a única forma de ele ser um líder e não um chefe!
E é aqui que o sentido figurado, o qual mencionei lá no início do texto, muda de figura.
Você só conseguirá entender o seu LÍDER, quando de fato você se tornar um.
E lembre que você não precisa ser chefe pra isso.