Quanto pesa um sonho grande?

Quanto pesa um sonho grande?

Paris, 17 de Janeiro de 2011.

O domingo mais difícil da minha vida.

Nesse dia, por volta de 8am, eu saía de Strasbourg – onde havia morado os últimos 6 meses – em uma longa viagem de trem, de mudança para La Couronne Carro, uma prainha no sul da França, região de Marseille.

Fazia 8 graus negativos.

Eu iria baldear em Paris.

Fazer a transição da Gare de L’Est para a Gare de Lyon de metrô.

Em uma viagem de turismo, com uma mochila nas costas, talvez você saiba, essa baldeação é simples.

Mas com 78kg de carga, em 2 malas e 2 mochilas, sozinho, não é tão simples assim.

Só aí me dei conta do quão mal planejadas são as escadas, normais e rolantes, nas estações de metrô da cidade número 1 do mundo em turismo.

Eu subia ou descia uma mala e uma mochila de cada vez. Duas viagens para cada lance de escadas. Sempre de olho na bagagem que estava à minha espera na outra ponta da escada.

Fiz tudo sozinho!

Ao parar para comprar uma água, já na Gare de Lyon, uma mulher me perguntou para onde eu estava indo com tanta bagagem.

– “Transformer un rêve en réalité” eu brinquei.

Ela riu.

E quando expliquei, ela se assutou:

Tu te fous de moi, jeune homme?!

Mas não. Eu não estava brincando.

Em uma analogia barata, aos ouvidos dela, a minha história equivalia à de alguém que estivesse se mudando de Salvador para Curitiba, de ônibus, com transição no Rio de Janeiro, precisando baldear entre a Rodoviária Novo Rio e uma estação qualquer da Zona Norte.

Com 78kg de bagagem!

Deu pra sentir?

Mas o motivo era nobre. E eu definitivamente não estava brincando.

Nas minhas malas eu carregava o meu sonho.

Um sonho que há muito eu tinha prometido para mim mesmo que realizaria.

“Fazer um excelente estágio em uma grande empresa da França”.

Custasse o que custasse.

Certa vez, em um contexto completamente diferente, um grande amigo me disse:

 “Nunca brinque com os sonhos de uma pessoa. Principalmente se essa pessoa for você.”

Eu levo essa frase muito a sério até hoje.

Não importava o quão difícil ou desafiadora a jornada seria. Eu não iria recuar. Era meu sonho, afinal. Ninguém o realizaria por mim.

Um sonhador não se apega aos problemas. Um sonhador vai atrás das soluções.

São assim que os sonhadores se tornam realizadores.

E assim eu fiz.

Já era noite quando eu cheguei a La Couronne Carro. A estação de trem era minúscula. Eu nem parecia estar no lugar certo. A foto abaixo é apenas representativa. Foi tirada em outro momento. Naquele momento do dia 17 de Janeiro de 2011 eu não tinha forças para pensar em uma foto.

Medo, realização e cansaço me acompanhavam. 

Mas à frente, o meu sonho me chamava.

O estágio na maior empresa de aço do mundo estava prestes a começar.

Segunda-feira,18 de Janeiro de 2011.

A melhor segunda-feira da minha vida.

Posfácio

Essa é uma história que retorna de tempos em tempos à minha memória. Alguns anos depois que eu retornei da França para o Brasil, conversando com minha mãe, ela me contou que esse foi também o pior dia da minha viagem para ela. Enquanto eu subia e descia escadas, ela orava ajoelhada com os olhos cheios de lágrimas. Tem um ditado que diz que existem circunstâncias em que o filho chora e a mãe não vê. Nesse dia eu soube que quando o filho chora, a mãe pode até não ver, mas eu não tenho dúvidas que ela sente. A minha sentiu. E chorou comigo.

 

 

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