Quanto custa viver nos Estados Unidos?

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Nem todo mundo sabe, mas já faz 4 anos que eu saí do Brasil para morar nos Estados Unidos e, desde então, a minha vida mudou bastante.

Essa jornada começou como uma aventura planejada entre mim e a minha esposa. No início, fizemos várias viagens e curtimos muito por aqui.

Fomos para Vegas comemorar os 30 anos dela. Saímos de Houston para aproveitar um fim de semana estendido em New Orleans, a terra do Carnaval por aqui. Fizemos uma roadtrip a bordo de um Mustang conversível na Califórnia, subindo de San Diego a San Francisco pela Big Sur e uma série de outras pequenas viagens aqui e ali só no primeiro ano de American Dream

No segundo ano, junto à pandemia, nasceu o nosso primeiro filho e, no ano passado, a nossa segunda filha. Nesse meio tempo, abrimos uma empresa no Brasil para dar vazão nas mentorias e palestras que dou e, recentemente, recebi uma promoção na empresa na qual trabalho aqui como engenheiro.

Foram muitas aventuras e descobertas ao longo do caminho e, junto de tudo isso, a adaptação de morar longe da família e com parâmetros muito diferentes de vida.

Quem vê de fora, às vezes acha que é tudo mil maravilhas, pois as pessoas idealizam bastante morar no exterior. O que elas se esquecem é que viver nos EUA é diferente de viajar nos EUA.

A visão da maioria é de quem viaja e come um lanche no McDonald’s por US$ 7 e compra uma camiseta por US$ 10. A partir disso, tendem a achar que viver aqui é barato, mas posso te dizer com toda a certeza que isso é uma grande ilusão.

Para nos aprofundarmos no assunto e você virar essa chave na sua interpretação sobre o custo de vida por aqui, antes de mais nada, são necessárias duas mudanças:

  1. Você deve parar de comparar tudo com o Brasil, ou seja, é fundamental fazer uma análise dos EUA independentemente da sua visão de custos de uma vida brasileira.
  2. Você não deve converter as moedas, pois isso não faz sentido nenhum na hora de analisar o custo de vida em um país estrangeiro.

Para se ter uma ideia, o ganho bruto anual de uma família americana média, de acordo com o Censu dos Estados Unidos,  é de pouco menos de US$ 70 mil — isso sem contar os impostos, que podem variar de de 25% a 35%, fazendo o ganho líquido cair para cerca de US$ 52 mil

É claro que cada dólar vale muito, mas tenha em mente que não é nada fácil ganhar muito por aqui. A desigualdade social existe, mas não é como no Brasil: enquanto um funcionário de uma rede de fast food ganha em média US$ 10 ou US$ 15 por hora, um profissional sênior com uma ou duas décadas de experiência em uma empresa, com salário razoável, pode ganhar entre US$ 30 e US$ 50 por hora.

Bem diferente da realidade brasileira, né?

Mas essa é apenas a parte boa da equação, a parte dos ganhos. Se você tem curiosidade sobre o assunto e deseja saber mais sobre a parte dos custos de morar nos EUA, vem comigo!

Uma análise sobre os custos fixos

É importante ter em mente que os valores que trago neste artigo são uma base e podem sofrer diversas variações de acordo com o seu estilo de vida, o tamanho da sua família e até mesmo a cidade na qual você mora nos Estados Unidos. Mesmo assim, é possível ter uma ótima referência para entender a média de custo de vida por aqui!

1. Moradia

Você pode morar de aluguel ou comprar um imóvel e fazer um financiamento.

No caso do aluguel, é interessante se lembrar de que você não tem custos de manutenção com a casa, mas, ao mesmo tempo, a moradia não é sua.

Se você não sabe por quanto tempo pretende morar nos EUA, talvez o financiamento não faça muito sentido porque, no primeiro ano, você vai pagar muitos juros. 

O aluguel de um apartamento, por sua vez, pode ser mais prático e a melhor escolha para quem não tem a intenção de ficar muito tempo no país. No Texas, um aluguel de apartamento de 1 a 2 quartos pode custar entre 1500 a 3000 dólares, além de 200 a 300 dólares de condomínio. 

A modalidade mais comum de aluguel funciona na forma de leasing, no qual você faz um contrato de poucos meses com a empresa proprietária dos apartamentos. Diferente do Brasil, aqui os apartamentos pertencem a empresas e não a pessoas físicas.

Uma boa casa nos subúrbios não tende a sair muito mais caro que um apartamento, no entanto, uma casa envolve mais custos variados, sobre os quais falarei mais à frente neste artigo. Com US$ 2000 já é possível alugar uma casa grande com 3 ou 4 quartos. Neste caso, os aluguéis são normalmente feitos com proprietários através de imobiliárias.

Para quem busca comprar um imóvel, geralmente as melhores soluções são sempre casas. O grande benefício de comprar uma casa é que ela será sua, mas, ao mesmo tempo, os custos envolvidos também serão. Isso não acontece na modalidade de aluguel, em que qualquer custo de manutenção é responsabilidade do proprietário. 

Além disso, os primeiros meses e anos do pagamento de um financiamento são quase que exclusivamente para cobrir os juros da compra. Portanto, se o seu plano é ficar pouco tempo nos Estados Unidos, essa é uma solução bastante arriscada e praticamente inviável.

2. Contas básicas de consumo

Nos Estados Unidos, o seguro residencial, mesmo não sendo muito caro, é obrigatório. Além disso, há as outras contas de consumo, em que a média de gastos mensal pode girar em torno de:

  • Luz: US$ 200;
  • Gás: US$ 100;
  • Água: US$ 100;
  • Internet: US$ 150.

Um diferencial por aqui é o fato de que podemos escolher a companhia de energia para receber luz em nossa moradia, portanto, é possível se beneficiar do livre mercado.

3. Automóvel

Em Houston, cidade onde moro, é praticamente impossível viver sem carro, porque é tudo muito distante, por isso, é um custo que precisa ser levado em consideração.

Aqui também existem duas opções: financiar ou fazer um leasing. 

O financiamento de um carro relativamente popular na faixa de US$20.000, com juros, deve exigir por volta de US$ 350 por mês por um período de 4 a 6 anos. Neste caso, por mais que você também assuma todos os riscos e manutenções com o carro (a não ser que contrate uma garantia), ele se torna um bem seu.

Já para quem optar pelo leasing, pode acabar pagando um pouquinho mais caro, mas tem vários benefícios inclusos por não ser o proprietário do automóvel, por exemplo, os custos de manutenção do mesmo já estarem embutidos em contrato. 

O “downside” aqui, além de não obter o bem, está no tempo de contrato. Caso você não tenha certeza que vai ficar por aquele período do contrato, as multas de rescisão podem ser bem salgadas. A vantagem é que ao final do contrato você tem o direito de quitar o carro e adquiri-lo como bem pelo preço que foi firmado no momento da assinatura. Uma boa alternativa para vencer a inflação.

Além disso, uma curiosidade é que o seguro para automóvel por aqui é obrigatório e adiciona mais uns US$ 150 na conta mensal.

4. Escola (para quem tem filhos)

Todo mundo pensa que escola por aqui é de graça e portanto não é necessário considerar tais custos. Acontece que essa realidade só passa a existir para crianças a partir dos 5 anos de idade. Até lá, os custos são com vocês, papais e mamães. 

Eu, por exemplo, tenho um filho de 3 anos que passa o dia no Day Care, um investimento mensal que pode variar de 1000 a 2000 dólares. Se você lembra dos ganhos do americano médio, percebeu que isso pode representar de 20 a 50% dos ganhos líquidos no ano. Não é pouco não, é?

Uma análise sobre os custos variáveis

Os custos variáveis são aqueles sobre os quais temos um pouco mais de controle: podemos segurar um pouco aqui e gastar mais ali a fim de reduzir as despesas.

Lembrando, é claro, que tudo depende muito do estilo de vida de cada um. Tentei trazer apenas uma média para você ter mais clareza sobre o quanto é possível gastar.

Confira quais são os principais custos:

1. Alimentação

Novamente, é importante ressaltar que este custo pode variar bastante de acordo com os hábitos e preferências da pessoa.

As compras mensais de supermercado podem ir de 500 a 4 mil dólares, vai depender do tipo de comida que você deseja consumir diariamente.

Para quem come muito na rua e é adepto ao fast food, é possível comer um lanche gastando de 5 a 10 dólares. Já um prato em um restaurante pode variar de 16 a 20 dólares, por exemplo.

Ah, e não podemos nos esquecer de que a gorjeta em restaurantes é de 18% a 25%, então é importante considerar este valor sempre que sair para comer.

E falando em custos extras, é importante citar a taxa de 8,25% (aqui no Texas) em compras diversas. Este valor não está embutido no valor do produto como no Brasil e muitas pessoas que não moram aqui ficam surpresas quando se deparam com essa taxa no ato do pagamento.

2. Lazer

Logo que cheguei aos Estados Unidos, tinha a ilusão de que iria sempre aos jogos de basquete e futebol americano, afinal, é possível encontrar ingressos baratos, por volta de US$ 20.

Depois de começar a experimentar a diversão, me dei conta de que não eram apenas os US$  20 do ingresso, pois também havia estacionamento, comida, souvenirs etc.

Nos EUA o entretenimento é feito para você gastar e, se não tomar cuidado, vai muito dinheiro aqui. 

Isso não significa que você não vai sair de casa, mas é preciso ter clareza sobre os custos envolvidos nos passeios que você se propõe a fazer, pois algo simples que começa com US$ 10 pode se tornar US$ 50 em um piscar de olhos.

3. Saúde

Nos meus primeiros meses morando nos EUA, tive uma crise de apendicite. Fui para o hospital e identificaram que, além disso, estava com pedras nos rins. Fui para a mesa de cirurgia, assinei um monte de papelada e, quando recebi a conta, caí para trás: 260 mil dólares!

Nem todo mundo sabe, mas os gastos com saúde são altíssimos por aqui. Eu, por exemplo, tenho o plano de saúde da empresa na qual trabalho e, assim como no Brasil, pago ⅓ do valor. O problema é que nem o melhor dos planos cobre todos os nossos gastos. Você sempre precisará desembolsar algo a mais, seja em uma consulta de rotina, exames ou uma emergência.

Funciona mais ou menos assim: o plano de saúde tem um determinado valor de “franquia”, o chamado deductible. Até esse teto da franquia ser atingido, você paga o preço total de qualquer procedimento ou consulta que realizar. 

Só depois de ultrapassar este deducitble  que você passa a pagar apenas um percentual do que foi gasto, no meu caso 20%. Existem casos de maior risco, em que você pode pagar menos por mês, mas seu percentual pode ser ainda maior, caso precise utilizar. Felizmente existe também o “out-of-pocket” que, apesar de não ser baixo, é o máximo que você vai pagar por pessoa por ano. Ou seja, no caso da minha conta de 260 mil dólares, fui salvo por isso. Thank God!

Quer morar nos EUA? Entenda (de verdade) qual é o custo de vida

O meu objetivo com este artigo não é afirmar que morar nos Estados Unidos é ruim, pelo contrário: acredito que haja muitos benefícios.Temos qualidade de vida, segurança e muitas outras vantagens que fazem valer a pena.

O ponto é que muita gente idealiza morar aqui, porque quando visitam o país estão viajando e acreditam que o custo de vida é baixíssimo se comparado com o Brasil.

Não é bem assim! Morar aqui é muito bom, mas também há um custo de vida alto que precisa ser levado em consideração.

Para tomar uma decisão desse tipo e se mudar para outro país, é preciso ter muito pé no chão e fazer vários cálculos antes de qualquer coisa.

Como brasileiro morando nos EUA há 4 anos, acho válido compartilhar a minha experiência para ajudar mais pessoas a fazerem melhores escolhas.

Aliás, se quiser continuar conferindo mais detalhes sobre como é o meu dia a dia com a minha família e meu trabalho aqui nos Estados Unidos, te convido para me acompanhar no Instagram: @rodrigobarreto.oficial. Nos vemos por lá?