Por que temos dificuldade em desconectar da carreira?

Qualidade x Quantidade

Qual o momento certo de parar? Quando desconectar? Qual é o meu limite? Perguntas como essas angustiam muitos profissionais no Brasil e no exterior. Percebo isso nas minhas redes sociais, nos meus mentorados e no meu próprio passado. Sim, também me fiz esses questionamentos em minha carreira e precisei criar a consciência de que se eu quisesse realizar meus objetivos, precisava ter um planejamento que incluísse momentos de desconexão, a curto e a longo prazo.

Não vou dizer que foi fácil. Eu amo o que faço e para profissionais que fazem aquilo que gostam no dia a dia, que sentem prazer nas atividades que realizam, parar é extremamente mais complicado. Nós seguimos uma linha reta. Entramos em um fluxo que é: vai, vai, vai e vai. Sem parada. Tudo porque entramos em um universo que temos controle e gostamos de lidar. Por um certo lado isso é bom. Porém, mesmo fazendo o que nos satisfaz, em algum momento temos que parar para que aquilo que nos faz bem, amanhã não nos destrua e gere um pane no nosso sistema, principalmente a curto prazo.

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Consequências a curto prazo da carreira frenética

Houve uma época que se denominar workaholic era o melhor dos mundos, até conhecermos os prejuízos de viver 24/7 em função do trabalho. Em outras palavras, até termos consciência do que a síndrome de burnout era capaz. 

O Brasil ocupa a segunda posição entre os países com maior percentual de casos de burnout no mundo, com 30%. Atrás apenas do Japão, que possui bem mais que o dobro de casos.

Brasil é o segundo país com maior número de casos de burnout – Fonte: Exame

Há vários fatores que influenciam e potencializam um profissional ter burnout, e uma delas é não inserir na rotina diária um tempo para se desconectar. A maior dor dos meus mentorados que amam aquilo que fazem e se consideram workaholics é justamente essa e as frases mais frequentes são:

  • “Eu não sei a hora de parar.”
  • “Não consigo, eu tenho coisas para fazer e vou até 22h.”

Muitos ainda se questionam o porquê precisam parar se amam o que fazem e sempre há o que fazer. Uma coisa é preciso ter em mente, vai ter trabalho hoje, amanhã, depois, depois e depois. Não desconectar desde já, não fará com que lá na frente tenha uma menor quantidade de atividades a serem realizadas. Demanda vai ter e pode até aumentar. O que irá diminuir é a sua paciência, paixão, produtividade, saúde e qualidade de vida, além do fato de abrir as portas para um possível burnout.

Burnout - Qual o momento de parar a carreira?

Estresse é um dos principais gatilhos para a síndrome do burnout – Fonte: Exame

Tudo é uma questão de organização, disciplina e rotina. Se permitir se desconectar tende a ser menos complexo para os profissionais que possuem hora para entrar e hora para sair. Por quê? Porque há rotina. Eles sabem que todos os dias durante às 8h e 17h, por exemplo, o foco é o trabalho. Depois, mudam a chave e passam a fazer coisas para si. Claro que há exceções e que por vezes temos a necessidade de ficar mais, mas em relação ao profissional que tem o seu próprio negócio, esse momento de pausa tende a acontecer com maior frequência. 

Quando você é a sua empresa, respira e vive aquilo, porque se não fizermos, o negócio não cresce. Porém, esquecemos que mesmo dependendo unicamente do nosso esforço, também precisamos estipular uma rotina que nos permita desenvolver nossa carreira e nossa vida. É preciso criar regras para o seu dia e situações, questões simples. 

Vou dar um exemplo: horários e dias para abrir a caixa de email. Algo que escuto bastante das pessoas é: “Ah, mas é só abrir e fechar o email para ver se tem algo novo ali, não vou responder na hora e demora 10 segundos”.  Ok, mas e as consequências dessa ação? Será que vão durar apenas 10 segundos? Será que não vai acabar com o seu dia, momento com a família e amigos, o final de semana todo, porque estará preocupado ou ansioso com algo que leu? Não é apenas o fato de abrir o e-mail em si, mas sim o efeito que aquela ação causa no seu cérebro e nas suas emoções.

Algo de segundos pode ter um impacto gigante em você, pode mudar seu humor da água para o vinho. O primeiro passo é criar consciência de que é preciso mudar, o segundo é criar mecanismos que lhe ajudem a não cair nessas armadilhas, e na mentoria tenho auxiliado bastante meus mentorados com isso. Caso contrário, a tendência de entrarmos em um ciclo vicioso no qual aumentamos cada vez mais a demanda, apagando apenas os incêndios do dia a dia e não deixando de olhar de forma macro os objetivos é muito maior. E o que acontece quando não temos uma visão geral do que queremos em nossas carreiras? Não trabalhamos a longo prazo e nem mesmo o nosso legado.

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Será que é mais fácil desconectar a longo prazo?

Mas se você acha que sabendo trabalhar com planejamento e estratégias a longo prazo acaba sendo mais fácil desconectar da carreira, está enganado(a). Para entender melhor o motivo disso, vamos olhar para a carreira de um atleta. Tom Brady, por exemplo. Com 44 anos, é o maior campeão da história da NFL, o jogador que mais passou para touchdowns e o segundo quarterback com mais jardas na história da liga. Ele construiu sua marca e seu legado ao longo dos anos e está no seu auge, por que ele iria parar agora?

Há dois anos, depois de ganhar mais um superbowl, falou-se bastante que estava na hora dele parar, mas continuou. Mudou inclusive de time e continua no auge. Hoje, fãs, mídia e até mesmo pessoas mais próximas a ele devem pensar “se ganhar o próximo superbowl, melhor parar, já deu”. Mas a questão é: quem consegue parar no auge da carreira? Kelly Slater, Roger Federer, Serena Williams, vários nomes do futebol. Eu não consigo lembrar de alguém que parou no auge, você consegue?. Se é difícil para nós, imagina para um atleta que tem todo o holofote em cima, pressão dos fãs, social, da mídia, das empresas, até mesmo do próprio esporte quando o atleta é a cara do esporte? O que não deve passar na cabeça dele?

É complicado? Sim, mas adiar essa pausa na carreira também tem suas consequências, que podem destruir toda a trajetória criada e fortalecida até ali. O profissional vai forçando, chegando cada vez mais perto do limite e uma hora entra em decadência, encerrando a carreira em uma fase ruim e deixando a imagem abalada.

Um atleta que estica a carreira, tem disciplina, tem organização, quer e vai deixar um legado, mas não sabe a hora de parar. Uma pessoa que vive correndo atrás de si mesmo, sem conseguir ter uma visão macro da própria vida, não vai sair do lugar. 

Trabalhar incessantemente, sem planejamento, sem gestão do tempo, apagando incêndio toda semana, sem conseguir olhar lá para frente, sem dar um tempo a si mesmo, é danoso em qualquer profissão, ano e idade. 

Qual a sua maior dificuldade para desconectar e o que você está fazendo para melhorar?

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