10 coisas que você precisa saber antes de vir trabalhar nos Estados Unidos

10 coisas que você precisa saber antes de vir trabalhar nos Estados Unidos

Nos últimos anos o número de emigrantes brasileiros tem aumentado consideravelmente. Quase todo mundo tem pelo menos um parente ou amigo que resolveu se aventurar em países como Canadá, Austrália ou Portugal.

Parte dessa evasão também se deu para os Estados Unidos. No entanto, em virtude dos processos com visto de trabalho serem mais restritos, a vinda para cá é um pouco mais complexa do que para outros países.

No início de 2019 eu fui transferido pela minha empresa para Houston, no Texas. No processo de transferência, eu encerrei o contrato de trabalho que tinha no Brasil e fui contratado como empregado local nos Estados Unidos.

Desde então, recebo inúmeras perguntas a respeito dos detalhes do processo de transferência. Por isso resolvi escrever este artigo elencando os principais itens que você precisa saber antes de iniciar sua jornada de transferência para a Terra do Tio Sam, com algumas dicas que podem tornar sua vinda muito mais fácil.

Como meu processo foi recente, as dicas estão bastante fresquinhas e atualizadas.

Então, se você está pensando em se aventurar na América, aqui vão os principais itens com os quais você deve se preocupar. E obviamente, eles estão acompanhados de algumas dicas que podem facilitar a sua vinda e consequentemente a sua vida.

Prontos para começar?

1. Visto

Todo mundo sabe que é preciso ter um visto para entrar nos Estados Unidos. E obviamente não seria diferente para trabalhar. Os vistos de trabalho são diferentes do visto de negócios temporários ou turismo B1/B2 que você já deve ter no seu passaporte. Além disso, existem diversos tipos, a depender da função, regime, tempo de trabalho, etc. Por isso, o tipo de visto e os mecanismos para emiti-lo são as primeiras coisas que você precisa conhecer.

Os vistos mais comuns de trabalho são o L-1, no qual você é sponsorado por uma empresa e portanto fica vinculado a ela, e o H-1B, que é utilizado para ocupações que exigem elevada especialização. Ambos têm ainda suas respectivas variações, a depender se você exerce função de gerência ou não, por exemplo. O número de concessões de vistos H-1B tem caído nos últimos anos devido a políticas mais restritivas e os custos de sua emissão. Além disso esse tipo de visto tem um limite máximo de emissões por ano. Como resultado disso, os vistos L-1 têm se tornado mais comuns. Com ele, as taxas de emissão são menores e você fica “amarrado” a uma determinada empresa.

Normalmente esses vistos têm duração de 2 a 3 anos prorrogáveis por até mais 5 anos.

O processo de solicitação, no entanto, é bem semelhante ao do visto B1/B2. Os mesmos documentos pessoais (e alguns outros) e o formulário DS-160 serão necessários. As taxas e os documentos de suporte (da empresa por exemplo) é que farão diferença. Você pode conhecer melhor os detalhes na página da embaixada dos EUA no Brasil.

2. Validação de Diploma

A maioria das profissões exige uma validação de diploma nos Estados Unidos. É assim para médicos, advogados, arquitetos e outros profissionais. Para Engenheiros e Engenheiras não é muito diferente. Tudo dependerá da função que você irá exercer e para que tipo de indústria vai trabalhar. Um engenheiro autônomo terá dores de cabeça equivalentes a de arquitetos e médicos, por exemplo.

A grande vantagem, no entanto, é que a maioria dos Engenheiros e Engenheiras acabam vindo como empregados, por um processo de transferência dentro de uma empresa na qual já trabalham no Brasil. Quando respaldados por uma companhia em que já exercem cargo semelhante no Brasil, os diplomas do Brasil já são suficientes para o exercício da profissão nos Estados Unidos. Basta que sejam adequadamente anexados ao processo de solicitação do visto. 

3. Custo de Vida, Salário e Impostos

Todo mundo acha que o custo de vida nos Estados Unidos é baixo porque tudo é barato. Sim, a sua viagem para comprar eletrônicos ou o enxoval do seu bebê saiu muito barato quando você comparou a aquisição dos mesmos produtos no Brasil.

E você ainda visitou Nova York ou a Disney!

Bom, a primeira coisa que você precisa reconsiderar é que o preço das coisas no Brasil não é parâmetro para dizer que algo é barato. Segundo é que os custos de vida no seu dia-a-dia são muito diferentes dos custos de vida das suas férias. Terceiro: produto é diferente de serviço.

Assim como no Brasil, os impostos descontados em folha variam entre 25-35% a depender do tipo de trabalho e do Estado. As taxas na Califórnia são diferentes das taxas no Texas, por exemplo.

A regra do quem converte não se diverte não se aplica quando você mora fora do país. Especialmente nos Estados Unidos onde o consumo além do necessário é incentivado como parte do processo de ‘fazer a economia girar’.

Pensar nas coisas sem considerar o peso do dólar como moeda, independente das conversões, é um erro grave!

Não pretendo entrar nos detalhes do seu orçamento por aqui, apenas quero deixar claro que você precisa levar em conta que os custos de vida por aqui não são tão baixos quanto parecem. Dinheiro na poupança não rende como no Brasil e você precisa aprender a investir em outras alternativas caso queira ampliar seu poder de compra ano após ano.

Você vai me entender depois dos 6 primeiros meses pagando uma fortuna pelo seu plano de saúde. Principalmente se você precisar usá-lo. Deductibles e co-pays custam caro.

Believe me!

4. Plano de Saúde

E por falar em saúde, esse é um dos principais vilões dentro da sua equação de viabilidade em trabalhar nos Estados Unidos. Muita gente confunde a boa medicina com o controverso sistema de saúde americano. E isso acaba custando caro, literalmente.

Como já disse, os custos com plano de saúde são bem elevados por aqui. Assim como o são no Brasil. Uma vantagem dos Estados Unidos é que você pode personalizar muito bem o seu plano, optando por mensalidades mais baixas e assumindo o risco de pagar valores mais altos caso precise utilizá-lo. Já existem modelos similares no Brasil também.

A grande diferença aqui é que você sempre terá que tirar alguma coisa do bolso quando utilizar. Seja até atingir o seu deductible (equivalente a uma franquia de seguro de carro) ou quando precisar ir além dele e acessar o seu out-of-pocket, que deverá ter um teto anual.

Eu estava bem preparado para isso quando vim pra cá. Personalizei o melhor plano possível para minimizar o risco de surpresas e mesmo assim fui surpreendido. Uma crise de apendicite e alguns cálculos renais me fizeram passar por três cirurgias em menos de dois meses no último ano.

Long history short, meus gastos com o plano de saúde atingiram todos os limites possíveis.

Aprendi tanto que até os próprios americanos eu já estou ensinando a utilizar o plano.

5. Conta em Banco

Diferente do Brasil, aqui nos Estados Unidos existem centenas de bancos. Mas, como no Brasil, 3 ou 4 bancos reinam. Os demais funcionam como cooperativas de crédito (credit unions), que na prática funcionam como bancos. Você consegue ter conta corrente, poupança, investir e financiar através deles.

Se você perguntar a qualquer americano ou americana, 99% deles terão pelo menos uma conta no Bank of America, Chase ou Wells Fargo. Entretanto, para estabelecer uma conta corrente em um desses bancos não é tão simples quanto no Brasil.

Por aqui, você precisa construir crédito para ter uma conta aprovada em um grande banco. Uma aprovação sem crédito pode até ser bem sucedida, mas não espere que ela aconteça em menos de um mês.

Como imigrante, nas primeiras semanas, é natural que você não tenha crédito e apenas alguns dólares no bolso. E é aí que as cooperativas de crédito acabam quebrando um galho imenso. Elas facilitam a abertura de conta e permitem que você comece a construir crédito já nos primeiros dias sem precisar gastar seus suados reais convertidos para dólar a R$4 ou R$5. Estando empregado então isso fica extremamente simples.

O fato de as cooperativas de crédito serem menores também facilita o seu atendimento. O downside das credit unions é que elas não têm unidades espalhadas em cada esquina como os grandes bancos.

Parêntese!

(Por aqui as unidades físicas são muito valorizadas. O americano tradicional gosta de resolver as coisas olho no olho. Eles ainda usam cheque e enviam tudo pelo correio.)

Para mim, isso não faz diferença nenhuma. Depois dos primeiros perrengues aprendi a fazer tudo online e o acesso facilitado ao meu gerente de conta simplifica bastante as operações.

6. Carro

O sonho de muita gente é a chance de ter o carro que quiser nos Estados Unidos. Well, não é tão fácil assim. Mas você pode sim ter carros excelentes por preços muito acessíveis.

Diferente da Europa, os Estados Unidos desenvolveu toda sua malha de transporte através de rodovias. Se não morar no coração de LA ou NY, você precisará ter um carro.

Em cidades médias e grandes poderá enfrentar trânsitos superiores aos de Rio e São Paulo e em cidades pequenas precisará de carro se quiser sair da cidade. As cidades pequenas que me refiro são muito pequenas mesmo. Bicileta funciona apenas naquele perímetro entre o Walmart e o Walgreens.

A grande vantagem é que os preços dos carros são bastante acessíveis.

E para falar de carro eu preciso explicar o conceito de leasing.

Leasing é uma modalidade de “aluguel” na qual você paga por um bem que não é seu mas que pode vir a ser.

Entre comprar um carro e fazer um leasing, muitos americanos optam pela segunda alternativa pois conseguem acessar carros zeros financiando 50% do valor a ser pago em 2 ou 3 anos e ao fim desse período ter a chance de financiar o restante e se apropriar do veículo. O leasing de carros também é uma boa alternativa para quem não tem crédito e não sabe quanto tempo ficará por aqui.

A compra, por outro lado, permite que você obtenha carros usados , em ótimo estado, por bons preços. Lembre que por aqui as estradas costumam ser boas, portanto é muito normal te oferecerem carros com mais de 10 anos e 100.000 milhas rodadas em boas condições.

This might make you save some money, pal!

7. Moradia

O modelo de aluguel ou compra de residência é muito semelhante ao do Brasil.

Os alugueis funcionam, na sua ampla maioria, na forma de leasing também. Por aqui, ao invés dos alugueis direto com proprietário, você aluga o imóvel pertencente a uma empresa. Normalmente as empresas possuem complexos ou condomínios e detêm todas as unidades daquela habitação. Com isso, você faz um contrato por tempo pré-estabelecido (3, 6, 9, 12 ou 15 meses) direto com a empresa. Apesar de diferentes, as unidades seguem todas os mesmos padrões e, na maioria das vezes, já possuem grande parte dos eletrodomésticos.

É, sem dúvida, a maneira mais conveniente para os primeiros meses por aqui.

Caso opte por comprar, existem modalidades de financiamento em longo prazo bastante semelhantes às praticadas no Brasil. Lembra daquela parte em que falei sobre construir crédito? Você precisará dele para financiar um imóvel.

8. Férias

Estamos chegando na parte boa, ?

Pois é. E esse é um tópico importante.

No Brasil, trabalhando em regime de CLT somos mal acostumados a 30 dias corridos de férias. Se isso acontece na prática ou não com o seu empregador é outra história. Muita gente acha que nos Estados Unidos existe um regime similar a algumas nações europeias em que é direito dos empregados gozar de 30 ou 40 dias úteis de férias anuais.

Por aqui, as empresas têm liberdade para determinar a sua política. Em geral são dados 10 dias úteis de férias por direito do empregado e outros 10 dias por obrigação do empregador, que acabam sendo descontados de feriados.

Em resumo, você acaba tendo 10 dias úteis de férias.

Algumas empresas podem oferecer diferentes benefícios para funcionários mais velhos ou com mais tempo de casa. Aí vai depender de empresa pra empresa.

A única coisa que você pode esquecer é que por aqui você vai trabalhar menos. Apesar de as horas extras serem bem menos comuns do que no Brasil, por aqui, o tempo é melhor aproveitado.

No Brasil, em geral, o tempo de trabalho é medido pela quantidade. Aqui, pela qualidade.

9. Língua

Bem, acho que não preciso falar que o idioma oficial por aqui é o Inglês, ?

Mas você sabia que alguns Estados, como a Louisiana ou o Hawaii, têm dois idiomas oficiais? Além do Inglês, eles têm Francês e Hawaiian, respectivamente, é lógico!

A dica que eu dou sobre língua é que não espere falar inglês como você fala português para buscar sua oportunidade ou considerar que está pronto para mudar.

Estou há um ano por aqui. Meu inglês está muito longe de ser o que eu desejaria e ainda passo por situações controversas todos os dias.

Eu prefiro vê-las como engraçadas. Algumas pessoas as veem como constrangedoras.

É uma questão de perspectiva. Mas você pode escolher.

Eu escolhi sorrir ao invés de sofrer.

Quer a minha sugestão?

Pegue um telefone e ligue para qualquer customer service nos Estados Unidos. Se você conseguir se comunicar e resolver seu problema, independente dos trancos e barrancos que dê, se joga!

Don’t take life too serious, ma’am.

10. Família

Na minha opinião esse deveria ser o primeiro item da lista, mas se eu não tivesse começado com o Visto você teria desistido logo de cara. Certo?

Espero que não.

Bom, a depender do seu visto de trabalho, seu parceiro ou parceira poderão ter direito de trabalhar por aqui também. Normalmente, como é o caso dos vistos L-1, eles estarão linkados ao seu visto, como dependentes. Eventualmente será necessário que apliquem um processo separado do seu caso queiram ter seu próprio work permit. Não tende a ser um problema, mas pode levar de 1 a 6 meses.

Portanto, prepare a Dona Maria ou o Seu João para um tempinho de férias e acomodação.

Quanto aos filhos, acredito que a principal preocupação seja escola. E isso poderá ter influência sobre o lugar onde você mora. Por aqui a maioria das escolas é pública e existe a lei do distrito escolar, na qual você deve morar onde seu filho estuda. Isso não é válido para escolas particulares, no entanto é muito difícil você ver as pessoas morando longe da escola dos filhos.

É mais comum se afastar do trabalho. Como as crianças ficam na escola em período integral, é normal que você saia de casa, deixe seus filhos na escola, vá trabalhar e retorne na hora de buscá-los.

Isso é um dos grandes benefícios do tempo de qualidade a que me referi quando falei de trabalho.

O seu tempo de quantidade fica reservado à família.

Porque apesar de esse ser o último item dessa lista, ele é sem dúvida o primeiro no seu pensamento e no seu coração. Certo?

Espero que sim.

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